sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Rui Sousa despede-se do ciclismo e da "sua amada" Volta a Portugal.



Foto: Nuno Veiga/Agência Lusa
Chegou a hora de nos despedirmos de um dos maiores ícones do ciclismo português dos últimos anos. Rui Sousa, o corredor natural de Barroselas, Viana do Castelo anunciou hoje o fim da sua carreira recordado a sua entrega e profissionalismo durante 20 anos de carreira, onde ficou apenas a faltar uma vitória na “sua amada” prova.

"Há um timing para tudo na vida. São 20 anos de profissionalismo, dedicação e empenho. São muitos quilómetros de estrada. Independentemente de, hoje em dia, a minha capacidade física já não ser a mesma, eu entendo que tenho de dar a vez aos mais jovens. Naturalmente, vou ter muita pena, todos os dias me tenho emocionado com aquilo que é o pensamento de despedida, sobretudo, da Volta a Portugal", explicou à agência Lusa, no dia em que anunciou que vai encostar a bicicleta.

Como não podia deixar de ser, o final de uma tão marcante carreira seria na Volta a Portugal. "Sair e deixar de correr tinha de ser nesta, que é a minha corrida e que é aquela corrida em que o público me apoia de uma forma que nem consigo muito bem descrever. Isso tem sido patente não só na minha terra, mas em qualquer parte do país. Tem muito a ver com esses 20 anos de profissionalismo, de entrega, de luta, de acreditar sempre. As pessoas acabaram por se habituar e acarinham-me por isso. Mas chegou a altura de dizer adeus", assumiu o ciclista da RP-Boavista, que começou a pedalar aos 12 anos.

Para além da vida como corredor, Rui Sousa acumula ainda as funções de presidente da União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro e criador e comerciante de aves exóticas. No entanto admite que gostaria de ficar ligado à modalidade que foi e é a sua vida.

"Vou sentir falta de estar na luta, porque sinto que toda a minha vida fui um guerreiro. Luto desde muito novo, sou oriundo de uma família muito humilde, que sempre me deu todo o apoio possível. E depois, dentro daquilo que foi o apoio, tive de lutar, lutar e lutar. Nunca tive nada caído do céu. Sinto-me feliz com aquilo que foi a minha carreira. Naturalmente, gostava de ter vencido uma Volta a Portugal, seria a cereja no topo do bolo da carreira de um atleta que tem cinco pódios. Acho que é legítimo pensar que poderia ter vencido alguma. Não foi possível, os outros foram melhores nos momentos cruciais", reconheceu.

Foram várias as equipas por onde passou o veterano corredor de Barroselas, em 20 anos de profissionalismo passou por Porta da Ravessa (1998-2001), Maia-Milaneza (2002-2004), Liberty Seguros (2005-2009), Barbot (2010-2013) e pela atual Rádio Popular-Boavista (2014-2017).

"Quero agradecer a todas as equipas por onde passei, a todos os colegas que tive. Queria pedir desculpa a todas aquelas pessoas com quem não fui correto na minha carreira, independentemente de ter razão ou não. Nesta modalidade, quase não tenho inimigos- posso ter uma pessoa ou outra. Até ao dia de hoje, continuo a ser um atleta respeitado pelos adversários. Noto que as pessoas gostam de mim e penso que isso tem a ver com a minha postura em corrida. Sempre soube, nos momentos bons ou menos bons [emociona-se], dizer que não venci, porque não fui o mais forte", lembrou.

Contudo Rui Sousa, não consegue escolher um momento a destacar na sua longa carreira entre cinco vitórias em etapas na Volta a Portugal (Torre, em 2008 e 2014, Senhora da Graça, em 2012, Santa Luzia, 2013, e em Fafe, esta quinta-feira), os cinco pódios na “Grandíssima” (segundo em 2014 e terceiro em 2013, 2012, 2011 e 2002) ou ainda o título de Campeão Nacional de fundo (2010).

"O menos bom foi o ano de 2003. Em 2002, fiz terceiro e nesse ano era o líder da equipa para a Volta a Portugal e acabei por ter uma lesão no joelho, que deitou tudo a perder. Esse foi o ano negro da minha carreira. Chorei muito, porque pensei que, aos 20 e poucos anos, a minha carreira acabava ali. Foi um sofrimento tremendo, mas consegui, como em tudo na vida, dar a volta por cima. Estou feliz com o que fiz, como corredor dei sempre o meu melhor. Não tenho nada a apontar. Se começasse agora do zero, faria tudo igual", assegurou.

Em lágrimas, aquele tem sido considerado o “ciclista do povo” nos últimos anos, revelou a sua maior alegria: "Pertenci à história desta modalidade e é isso que me deixa satisfeito".

Resta agora esperar para saber, se voltaremos a ver Rui Sousa pelo ciclismo e em que funções!

Escrito por: Marco Faria
Fonte: Lusa

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