terça-feira, 12 de novembro de 2019

João Almeida: Da Bairrada à QuickStep!

João Almeida com as cores da seleção nacional

Perfil e Resultados do João by FirstCycling

Na passada quinta, o Ciclismo Mundial esteve à conversa com o mais promissor talento do ciclismo nacional dos últimos anos. João Almeida, atualmente com 21 anos, assinou contrato com aquela que para muitos é a melhor equipa da história do pelotão internacional, a Deceuninck-QuickStep, e tornou-se no primeiro português a consegui-lo. Antes disso, João começou a sua primeira época de sub-23 na UniEuro, conseguindo depois um contrato com a Axeon – Hagens Bermans, uma equipa de referência no pelotão de sub-23, na qual competiu por 2 épocas, obtendo resultados excelentes que lhe permitiram dar o salto para o tão desejado World Tour!

Ciclismo Mundial – Começando pelo princípio, como surgiu a oportunidade de ir para a Axeon?
João Almeida – No primeiro ano de sub-23 tive na UniEuro, tive uma boa época, com alguns bons resultados, e depois através do meu agente João Correia e também do Matxin, eles conseguiram um lugar para mim na equipa, e depois os resultados que tive deram um pouco nas vistas e acho que salvaguardaram um lugar na equipa.

A vitória na LBL sub-23
CM – No teu primeiro ano na Axeon, em 2018, ganhas a LBL Espoirs, fazes 2º no Giro Ciclistico, 7º no Avenir… Como foi ter entrado tão bem e mostrado grandes resultados e exibições no ano de estreia numa equipa de sub-23 tão reconhecida internacionalmente?
JA – Foi bom, ganhar a LBL deu-me logo muita confiança, o trabalho estava a ser bem feito, e daí para a frente foi fazer o meu melhor em todas as corridas. Correr com mais calma e confiança em mim próprio, acho que essa vitória deu logo outra motivação para outros resultados como o Giro e o Avenir, e ajudou a ter mais calma e confiança no meu trabalho, sem pressão.

CM – Como foi liderar a seleção nacional no Tour de l’Avenir?
JA – Foi muito bom, a equipa estava toda focada nisso, também tentamos sempre ajudar o Rui nos sprints, nas primeiras etapas planas. A nossa equipa não era 100% para ajudar nos sprints, mas demos o nosso melhor, tentamos, ele fez bons resultados e quando chegamos às montanhas tive o apoio de toda a gente, 100% e fiquei muito agradecido pelo trabalho que eles fizeram por mim e vai ser algo que eu me vou sempre lembrar.

CM – Em 2019, um ano em que pelos resultados que tiveste, tiveste um pico de forma em agosto, em Utah, depois de teres feito a dobradinha nos nacionais. Em Utah, que sensações foste tendo ao longo da semana, ao ver que os teus resultados estavam sempre em crescendo, perante vários nomes fortes do ciclismo mundial?
JA – Eu trabalhei bastante nessa altura da época, tive um mau começo e queria terminar bem, também para agradecer o que fizeram por mim e por todos, e trabalhei bastante para aquela corrida, sabia que estava num bom momento de forma e sei que numa semana consigo manter o meu nível e sei do que sou capaz, então desde os primeiros dias, em que soube que conseguia discutir a corrida e estar na frente, na minha cabeça eu conseguia discutir todos os dias porque sei que consigo manter o meu nível e foi muito bom, fiquei muito satisfeito com o resultado, a equipa também merecia este resultado que eu consegui alcançar para eles.

CM – Acreditas que com a forma que chegaste a Utah, poderias ter ganho o Avenir se tivesses estado presente este ano?
JA – É uma pergunta relativa, nunca vamos saber… Eu sei que estava num momento muito bom, tanto mentalmente como fisicamente, mas nunca vamos saber se conseguia fazer um bom Avenir ou não, mas sei que daria o meu melhor, e tanto por mim como pelos meus colegas faria o melhor pela nossa seleção, por Portugal. Acho que é algo que não se pode comparar, porque é muito relativo, mesmo as com as etapas… É diferente!

CM – E depois de 2 anos com a Axeon, alguns estágios com a QuickStep, o tão desejado contrato a ser fechado. O que sentiste quando conseguiste fechar contrato com a QuickStep?
JA – Foi o realizar de um sonho, desde pequeno ver os meus ídolos na televisão e o sonho de ser como eles, e correr naquele pelotão… E quando fechas um contrato, é o realizar de sonho, é o correres com os teus ídolos, fazer parte daquele pelotão, é muito satisfatório! É o realizar de um sonho!

CM  - Com que expectativas é que partes para o ano que vem?
JA – A minha expectativa é aprender, evoluir como pessoa e como atleta. O nível é muito alto, mas a minha expectativa é só aprender e crescer! Tudo o que a vier a mais, será bom!

João, quando conquistou a Volta a Portugal de Júniores
CM – Correr ao lado de Alaphilippe ou Jungels é sem dúvida um sonho tornado realidade?
JA – Sim, claro que fazer parte da mesma equipa que eles é também o realizar de um sonho, admiro muito ambos, mas não é só apenas eles os dois, toda a equipa, o staff, todos os atletas, o ambiente é muito bom… Ser com eles os dois, claro que é especial porque admiro-os um pouco mais porque identifico-me com eles, mas ser eles ou com o resto da equipa é exatamente igual, gosto de toda a gente!

CM – Qual a prova que mais gostavas de fazer no próximo ano e porquê?
JA – Não sei, todo o calendário World Tour é muito bom, todas as corridas são boas, não tenho assim uma corrida em mente, não é fácil escolher uma corrida… (risos) Eu gosto de provas de uma semana, gosto também daquelas clássicas da primavera, mas não me identifico muito com o pavê, por isso, provas de uma semana e clássicas de um dia, mais da primavera gosto bastante.

CM – Se estivesses numa disputa taco a taco com outro ciclista para vencer uma grande volta, quem gostarias que fosse e porquê?
JA – (risos) Deixa-me pensar… Se isso algum dia acontecer, era o Froome, tinha de ser o Froome, porque já ganhou 4 Voltas a França no ciclismo moderno, que é ainda mais difícil, a Volta a Espanha, a Volta a Itália, e poder discutir uma grande volta com ele era estar ao mesmo nível que ele, o que seria excelente, era um sonho, mas acho que será um bocado impossível acontecer.

CM – Com esta nova geração de talentos, que se está a mostrar cada vez, na qual te incluis, e até podemos destacar Bernal e Pogacar, que já têm resultados absurdos para a idade que têm, achas que estamos a marcar mais uma era de transição de gerações no ciclismo?
JA – Sim, cada vez mais os mais jovens trabalham cada vez mais e melhor e acho que as gerações futuras também terão uma palavra a dizer, e o trabalho é sempre recompensado, quem trabalha muito é sempre recompensado e às vezes o talento não quer dizer nada, porque com talento e sem trabalho não se vai a lado nenhum.

E assim terminou a entrevista ao João, que em breve estará também ele no World Tour, representando as cores de Portugal e da Deceuninck-QuickStep. A nós resta-nos agradecer pela entrevista que o João concedeu e pela sua disponibilidade! E aproveitamos também que em breve estamos aí com pequenas coisas, para vos mantermos connosco durante a off season!