terça-feira, 7 de agosto de 2018

Ciclismo e clubismo: polémico?


Foto meramente ilustrativa

Parece que ainda ontem começou e hoje já vai a meio a 80ª edição da Volta a Portugal em Bicicleta. Depois de um prólogo e cinco etapas em linha, a Grandíssima tem hoje um dia de descanso que irá permitir ao pelotão encarar os últimos cinco dias com forças revigoradas.

E nada melhor que este dia de descanso para abordar um tema que muito tem suscitado no ciclismo em Portugal ao longo dos últimos tempos, o ingresso das equipas de futebol no mundo do ciclismo. Será que foi positivo? Será que não? É isso que vamos abordar neste artigo.

2016 marca um ano de transição no ciclismo em Portugal, duas das equipas do pelotão português associam-se, cada uma, a um clube de futebol, que, para além de ajudar com o financiamento, teriam o seu nome no nome da equipa e ainda o seu símbolo no equipamento, que, a partir de agora teria de obedecer às cores do clube. É certo que no passado já o ciclismo esteve associado aos clubes, mas isso tinha terminado há bastantes anos, excetuando uma passagem do Benfica por este meio entre 2007 e 2008, e a aposta concreta do Boavista, que ainda assim esteve fora deste mundo entre 2011 e 2014.

Se reparamos no panorama do ciclismo internacional e focando o olhar agora sobre as equipas do World Tour e sobre as equipas profissionais continentais, não vemos um único clube associado a uma equipa de ciclismo, e porquê perguntam vocês? Porque foram as marcas, que desde sempre, ou quase sempre, se foram associando às equipas. Marcas capazes de investir com mais força neste desporto do que um clube que olha para o ciclismo como uma modalidade secundária.

Não é difícil de perceber que em Portugal as marcas também não investem mais que os clubes, ou porque não têm capacidade, ou porque não querem correr riscos, mas a verdade é que o ciclismo português já precisava de dar o salto para o nível acima. Olhando ao número de atletas que vamos lançando constantemente para os grandes palcos do ciclismo internacional é legítimo pensar que temos aspirações a poder construir uma equipa de nível continental profissional portuguesa, que certamente poderá obter em algum tempo um wild card que a lance na Vuelta a España, por exemplo, já para não falar nos inúmeros elementos de staff que temos dentro das melhores equipas do mundo, quer massagistas, quer mecânicos, quer diretores desportivos.

Foto meramente ilustrativa

Enquanto isso não acontece (e vamos esperar ainda uns aninhos para que tal aconteça), a visibilidade do ciclismo português remete-se para a Volta ao Algarve, onde conseguimos trazer a Portugal muitas das grandes figuras do pelotão World Tour. Para a Volta ao Alentejo onde vemos alguns dos jovens com mais talento a explodir e a mostrarem-se para em breve darem o salto. E, por último, para a nossa Volta a Portugal, que a cada ano que passa nos tem trazido uma luta entre os mesmos de sempre, com as poucas equipas com alguma reputação que cá vêm a virem apenas rolar em preparação de objetivos maiores.

Fora isso, e porque já estou a fugir um pouco ao assunto principal deste artigo, resta-nos uma luta entre clubes, que desde há três anos para cá tem trazido os adeptos de futebol, e não de ciclismo para este mundo com o único objetivo de ver o seu clube vencer. Nada contra apoiar a equipa da qual mais se gosta, atenção! O problema está em que uma boa parte da malta só assiste ao ciclismo porque tem lá uma equipa com o símbolo do seu clube, e se o clube desinvestir na modalidade o ciclismo acaba para esses! Para aqueles que pouco querem saber do espetáculo na estrada, e que só lhes interessa se o vencedor é da equipa que tanto gostam, seja o Zé ou o Quim, que vão criticar (nunca de forma construtiva) quando o dia corre menos bem... São esses mesmos que estão a inundar o ciclismo português com um ambiente negativo que se está a tornar deveras agressivo! Se não gostam de ciclismo, então que não venham para a estrada com bandeirinhas que colocam em plena reta de meta quase a bater na cara dos ciclistas que vão a alta velocidade para terminar mais uma etapa.

O ciclismo sempre se distinguiu de muitas outras modalidades pelas multidões que arrasta para os mais míticos locais. Por ver milhares de pessoas subida acima sempre incentivando qualquer ciclista que por ali passe. Em Portugal o ciclismo está a tornar-se, infelizmente, uma questão de clubes, em que os adeptos de clube decidiram vir para a estrada apoiar a equipa que carrega o seu símbolo. Isso é o que o ciclismo não precisa! Precisamos sim, daqueles que verdadeiramente gostam de ciclismo, que acompanham a modalidade e são mais do que conscientes do esforço que todos os homens do pelotão fazem em cima de uma bicicleta.

Mais do que tudo, apoiem os ciclistas do vosso país, os de nacionalidade portuguesa! Porque é triste, demasiado triste, numa Volta em que temos portugueses sempre na luta, termos apenas 2 vencedores portugueses nos últimos 14 anos.

Aproveito para terminar com uma citação de um dos maiores nomes da história do ciclismo, Tom Boonen, que costumava ter um autocolante na sua bicicleta que dizia “Sometimes you don’t need a plan, you just need to have big balls!”, traduzindo “Por vezes não precisas de um plano, só precisas de coragem!”.

Sem comentários:

Enviar um comentário