quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Rei de Portugal é Galego.





Escrito por: Diogo Martins

No passado domingo, terminou mais uma edição da Volta a Portugal. Pelo quarto ano consecutivo, os galegos dominam na Vitória da Prova. Todavia, isso não tira talento nem alento aos portugueses. Joni Brandão tem sido dos melhores atletas portugueses, neste calendário escasso que é o português, e voltou novamente a brilhar sendo 2º classificado. Falta dar o salto para o estrangeiro. Esperemos que seja já este ano, pois bem merece.

A verdade é que, excetuando o Grande Prémio do JN e o Troféu Joaquim Agostinho, quase mais nenhuma prova consegue preparar a Volta a Portugal. A Volta ao Algarve é dura, sim, mas, nessa altura, os atletas das equipas portuguesas estão a dar os primeiros toques nos pedais e não têm ritmo para a “pré-epoca” das equipas de World Tour. Mas vamos falar do que interessa, a nossa Grandíssima.

A Volta, como todas as provas de ciclismo, traz muita animação para as ruas portuguesas. Prova disso são os milhares de populares que vão para a rua gritar e aplaudir os ciclistas e. mais uma vez, vimos isso mesmo pelos 1550 kms percorridos nesta 77ª edição. Quem quer ter aspirações a vencer a Volta tem que estar os 11 dias sempre na frente e a prova disso são os resultados do Gustavo Veloso. Sem tirar o protagonismo ao Gaetan Bille, vencedor do Prólogo, que, sinceramente, tinha disponibilidade física para dar mais avanço do que os 3 segundos, Veloso aproveitou logo para arrancar segundos a toda a concorrência. Acresce a parte de ter uma equipa a trabalhar para si. Ter 8 elementos bastantes unidos, prontos a dar tudo, ajuda e muito, aliás, até rouba tempo à concorrência! Ter homens que, mesmo sendo roladores, estão em plena forma na Serra da Estrela, a deixar de pé quase todos corredores, é obra, mas não divina! É trabalho, dedicação, espírito de equipa, paixão pelo sacrifício e especialmente pela modalidade. Cada corredor tinha o seu trabalho delineado para cada etapa. Tal não acontece em todas as equipas e, a comparação com a Sky, é bem vinda. Pena os zeros nos orçamentos serem bem diferentes. Os 8 merecem uma salva de palmas, porque a vitória do Gustavo Veloso é deles e não apenas do nome que aparece com o nome escrito no troféu do próximo ano. Deixo uma palavra ao Joaquim Silva, que, se não fosse o mau dia na mítica Senhora da Graça, seria, talvez, o Camisola Branca desta edição, e do António Carvalho, que, mesmo sendo o aguadeiro de luxo para os últimos 5 kms, consegue um 6º lugar depois de, no ano passado, ter sido coroado como rei da Montanha. O mérito destas boas prestações tem que ir, obviamente, para o diretor desportivo da W52, Nuno Ribeiro. Para muitos, arrogante, ex-dopado, …, dores de cotovelo! Venceu 2 Voltas a Portugal e sabe a fórmula para ter uma equipa de sucesso, além de ter os melhores corredores consigo.

Mudando o foco, vimos um Filipe Cardoso, onde, além da experiência que vai acumulando, Baku deixou marca no seu currículo e nas suas pernas; sendo ele um rolador, soube defender-se bem na Senhora da Graça acabando por vencer - vitória mais que merecida. Deixo uma nota para a formação da EFAPEL: Rafael Silva que, se for bem aproveitado, poderá ser um excelente corredor. Mais uma vez, a LA lutou, tendo quase 3 líderes na mesma equipa, mas o destaque vai mesmo para Bruno Silva. Ao jeito de António Carvalho no ano passado, desde a primeira etapa a amealhar os pontinhos todos, fica assim com a Camisola Azul. Amaro Antunes é um jovem e tem muito para dar, falta só dar o clique. A equipa de Loulé foi vítima de muitos azares, mas ainda assim venceu uma etapa, a primeira em linha. Lesões e quedas afetaram a formação, talvez tenham sido razões para uma baixa prestação. Rafael Reis vai ser um dos melhores contrarrelogistas do mundo; espero que as equipas lá fora estejam bem atentas - um talento nato que não pode ser desperdiçado.

Partindo para a equipa do país vizinho, temos que referir a excelente prestação de José Gonçalves, que provou estar num momento esplêndido de forma e esperamos vê-lo a brilhar na Vuelta. Ricardo Vilela não precisava, mas provou que tem capacidade para lutar pela conquista da Volta. Só não o fez, porque a Vuelta é mais importante. Ainda assim, teve um bom comportamento para um bom aquecimento. O conhecido Edu Prades (dois anos na OFM, foi-se embora pela falta de dinheiro investido e, consequentemente, pelos ordenados em falta), alcançou um lugar na Caja Rural. Conseguiu também vencer a sua primeira etapa ao serviço da equipa. Não venceu mais talvez porque José Gonçalves quis ir aos sprints todos.
Fiquei desapontado com as prestações das restantes formações estrangeiras. Mesmo com a conquista da Camisola Branca pela equipa B da Katusha, esperava mais luta por etapas e classificação geral. Excluindo a Verandas Willems e a Team Idea 2010, que conquistaram três etapas, deram luta por etapas e colocaram os seus ciclistas nas fugas. A equipa Belga não conseguiu lutar mais pela geral com o seu Bille, porque o terreno é muito duro, em comparação com as planícies belgas. Ainda assim mostraram que vieram parai trabalhar e à conquista. Davide Vigano não conseguiu repetir a proeza na conquista da Camisola Vermelha, mas, ainda assim, venceu uma etapa e deu a vitória ao seu lançador, o jovem Matteo Malucelli. Poderemos vir a ouvir falar muito deste rapaz! Aliás, todos os corredores desta equipa italiana vão ser com certeza falados daqui para a frente e terão muito para dar ao ciclismo mundial.
Delio Fernandez é, para mim, quem mais respeito merece neste artigo da Volta a Portugal e, portanto, a conclusão vai para ele. Venceu 2 etapas, a etapa Rainha e na Serra do Larouco, que de fácil nada tem. Ajudou e muito o seu líder, mas teve azar; aquela avaria deitou por terra as aspirações a um novo pódio. Já tinha deixado a imagem que podia vencer uma Volta, este ano provou que está mais do que na hora.


Despeço-me com uma palavra de agradecimento à organização da Volta a Portugal por nos ter aceitado como membros da Comunicação Social. Fomos bem tratados e recebidos. Fico apenas desiludido com o pequeno facto de quem patrocina ser mais importante do que aqueles que tentam informar, com todas as suas forças e meios, e divulgar a Volta a Portugal como modalidade fundamental em Portugal.

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