Escrito
por: Vasco Seixas
Mais uma semana do Giro
passou, já lá vão 15 etapas, e confirma-se o prognóstico mais previsível de
todos: Contador neste Giro não tem rival à altura. Isto não quer dizer que os
demais adversários presentes são de pouca qualidade, não de todo, o problema é
que Contador está uma dimensão acima de todos eles, e se calhar os poucos que
conseguem ombrear neste momento numa prova de 3 semanas com o espanhol estão
todos a preparar-se para o Tour, deixando assim espaço a uma vitória mais ao
menos tranquila do El Pistolero na grande volta italiana.
Mas antes de me alongar
na análise à luta pela geral, vou analisar etapa a etapa tudo o que aconteceu
de mais relevante, desde o fraco pelotão presente até à hipocrisia da UCI.
Na etapa 10 assistimos
a mais uma exibição fantástica do pelotão, a provar toda a sua imensa boa
vontade ao deixar uma fuga que não tinha grandes nomes nela incluída e que
chegou a estar ao alcance da vista ainda a largos quilómetros do fim. Apesar
disso as equipas dos sprinters que se têm mostrado muito aquém tendo em conta
que são equipas de nomeada permitiram uma luta entre 4 italianos da qual saiu
vencedor Nicola Boem da Bardiani (já estranhávamos a falta de vitórias até
então da sempre ofensiva Bardiani) que claramente demonstrou ser bastante superior
aos seus compatriotas presentes na fuga do dia. Apesar deste desfecho
inesperado de etapa não foi o destaque do dia muito longe disso. O destaque vai
inteirinho para a hipocrisia da organização do Giro e da UCI que primeiro, e
também constantemente ao longo do ano, aplaudem o fair-play, neste caso
aplaudiram mesmo o gesto de Simon Clarke (já camisola rosa nesta edição) que
deu a seu roda dianteira ao compatriota mas rival Ritchie Porte como gesto de
solidariedade para com o azar do colega de profissão, apesar disso tudo, Porte
e Clarke foram penalizados em 2 minutos, tudo bem que está nas regras, mas não
será incoerente congratular algo, um grande gesto há que se diga isso, e depois
logo a seguir pune-se esse mesmo acto, no mínimo é tudo muito incompreensível,
mas a UCI gosta sempre de nos surpreender…
Seguindo em frente, na
etapa 11 assistimos a mais um show de Contador que revelou pela primeira vez
fraquezas no até então inquebrável Fabio Aru num ataque numa das colinas dentro
do espectacular circuito de Imola, circuito esse que tornou esta etapa na minha
opinião numa das mais belas das últimas edições do Giro. No final o pequeno
pelotão chegou todo compacto ao fim, sem nenhum dos protagonistas a perder
tempo, apesar da pequena queda do Úran mas que não o prejudicou no final. O
destaque desta etapa vai inteirinho para o ataque fulminante de Zakarin, o
russo da Katusha que virou a nova moda do ciclismo actual depois de ter vindo
do anonimato até a uma vitória contundente na Volta a Roumandie. Zakarin estava
incluindo numa numerosa fuga com nomes como o também controverso Betancur da
Ag2r, Beñat Intxausti da Movistar e ainda Ryder Hesjedal da Garmin vencedor há
pouco tempo desta mesma competição. Apesar disso Zakarin, apesar de tanta e tão
boa concorrência, decidiu a 20km do fim atacar para a vitória, um ataque para
muitos sem sentido mas para Zakarin tudo é possível, ou melhor para este
Zakarin tudo é possível. No final sozinho em 20kms ganhou quase um minuto para
o grupo perseguidor e nessa mesma distância pouco tempo perdeu para o pelotão,
mesmo apesar dos ataques e acelerações de Contador. No fim Zakarin apenas
sorriu, mostrando que com tanta facilidade quase que nem vale a pena correr,
pois se ele quisesse recuperava facilmente os quase 40 minutos que na altura
tinha de atraso para o 1º na geral!
A etapa 12 foi o
culminar do que ficou demonstrado na etapa anterior: Aru afinal não estava
assim tão bem. Numa etapa ao estilo das clássicas das Ardenas, Gilbert foi
buscar a vitória que lhe fugiu nessas clássicas, um ataque muito forte na
colina final da etapa, que permitiu à BMC conseguir a 1ªvitória nesta edição do
Giro. Quanto a Aru, numa pequena colina, onde não deveria ninguém perder tempo,
a sua fraqueza contrastou com a força do El Pistolero que ainda conseguiu fazer
2º ganhando 8 segundos mais bonificações num final não muito exigente de etapa,
permitindo o aumentar da já liderança do Espanhol da Tinkoff.
Finda as duas etapas de
média montanha, de volta uma etapa plana para os sprinters, que não desperdiçaram
desta vez a oportunidade (aprenderam bem com os erros passados), coroando no
final o italiano da Lampre Sacha Modolo que deu a 3ªvitória à sua equipa
mostrando que apesar de não ter um homem a lutar pela geral já conseguiu 3
vitórias em apenas 2 semanas de prova, algo notável para um formação que nem é
das mais poderosas do pelotão internacional. Atrás de Modolo ficaram Nizzolo da
Trek em 2º e Viviani da Sky em 3º que no final se queixaram (se calhar com um
pouco de razão) do sprint em ziguezagues do sprinter da Lampre. Apesar disso
foi uma boa etapa para o sprinter da Trek que conquistou a camisola dos pontos,
apesar de possuir os mesmos pontos que o compatriota Elia Viviani. Para
destaque desta etapa ficou a grande queda colectiva quase a chegar aos últimos
3km, que apanhou desprevenidos Alberto Contador e Ritchie Porte, que mais o
segundo que o primeiro perderam bastante tempo para o pelotão onde se incluía a
frota celeste da Astana. No final Aru conquistou a camisola rosa a Contador
para rejubilo do povo italiano e da organização da prova.
Apesar desta ultima
etapa, Aru apenas pode dormir uma noite com a liderança do Giro, pois no
contra-relógio ele e todos os outros foram exterminados pelo furacão Contador,
que literalmente voo no longo contra-relógio, contra-relógio que deitou por
terra logo dois dos principais candidatos: Uran que foi uma enorme desilusão e
também o azarado Ritchie Porte a quem lhe aconteceu de tudo e que chegou a este
TT a uma enorme distância já do 1ªlugar. Contador nesta jornada não só atirou
por terra as aspirações de dois dos grandes candidatos , como de quase todos os
restantes aspirantes ainda a vencedores nesta edição, mesmo Aru, que desta vez
não teve a sua escuderia a proteger, perdeu muito tempo numa etapa fulcral deste
Giro, que ficará na memória como o ponto de viragem desta corrida, a etapa em
que o espanhol da Tinkoff demonstrou a sua tremenda qualidade em relação a
todos os inúmeros rivais. Na etapa o bielorusso da Sky Kiryenka arrebatou uma
grande vitória, a primeira num contra-relógio apesar da sua já muito conhecida
qualidade nesta especialidade.
A etapa seguinte, a
etapa, a etapa 15, a primeira grande etapa montanhosa desta edição, mostrou
mais do mesmo, uma batalha Contador vs Astana, que acabou com o mesmo desfecho
do costume, apesar da vitória de Mikel Landa da equipa Kazaque (uma das
surpresas da prova), Contador ainda conseguiu ganhar alguns segundos a Aru
apesar de apenas ter respondido aos ataques de primeiro de Landa e depois do
próprio Aru, mas que no final so desgastaram o italiano que caso Contador
tivesse forçado um pouco teria perdido ainda mais tempo para o espanhol. A
destacar nesta etapa a presença do Sérgio Paulinho na fuga do dia, apesar de
não te durado muito, ainda nos deixou a sonhar com uma vitória portuguesa.
Nessa mesma fuga estava Visconti que andei deixou a ideia de que podia ganhar
bastante tempo com a fuga e subir bastante na classificação geral algo que
acabou por acontecer. No final a destacar igualmente as grandes prestações de
Trofimov da Katusha que conseguiu finalizar em 2º na etapa, de Konig da Sky que
se tornou o novo líder da equipa britânica entrando no top 5 da geral, Kruijswijk da
Lotto-Jumbo que se têm demonstrado um grande ciclista muito combativo e regular
e ainda Andrey Amador que conseguiu aguentar o 3ºlugar na geral, mas vamos ver
por quanto tempo dada a pressão imensa por parte do basco Landa. A contrastar
com isto tudo confirmaram-se as quedas meteóricas na geral do colombiano Uran,
o maior fracasso deste Giro e ainda claro do australiano da Sky Ritchie Porte
que merecia melhor sorte ao longo desta passada semana.
Agora chegamos ao 2ºdia
de descanso à entrada para a última semana, uma semana que deverá confirmar
Contador como o melhor ciclista do Giro deste ano (salvo alguma hecatombe)
apesar dos grandes ataques que virão por parte da armada da Astana que não
desistirá tão facilmente de lutar pela liderança da grande volta italiana.
Vamos ver o que nos espera nesta 3ªsemana, mas certamente teremos ainda muito
espectáculo, muitos ataques, muito drama, ou seja muito mais ciclismo! :D