sábado, 4 de fevereiro de 2012

Entrevista a César Fonte.



Tal como foi anunciado no nosso Facebook atempadamente entrevistamos mais um ciclista português, o jovem valor César Fonte.
O César é ciclista da equipa portuguesa Efapel/Glassdrive.
Antes de mais, obrigado César por aceitar o nosso convite.

Como entrou para o ciclismo?
Comecei na minha terra, em Vila Franca, havia a tradição de fazerem uma prova de BTT.
A primeira vez que participei foi com alguns amigos, mas foi simplesmente na “brincadeira”, no segundo ano fiquei nos 3 primeiros lugares e a partir dai comecei a participar em outras provas BTT, como individual, e tinha bons resultados.
No ano a seguir decidi correr na estrada pela Tensai/Santa Marta.  

Quando começou a correr, pensava que teria um futuro como profissional?
Nos primeiros anos não, até porque comecei muito novo e andava um pouco no ciclismo por brincadeira. Depois, com o passar do tempo, cheguei a sub-23 e ai já sentia a ambição de ser ciclista profissional.

A sua família sempre o apoiou na sua carreira de ciclista?
Sim, para um ciclista chegar a profissional tem que ter os apoios dos familiares e eu sempre tive e continuo a ter, por isso mesmo também agradeço a eles.

Quantas horas treina um profissional de ciclismo por semana?
Um ciclista não tem sempre o mesmo método de treino durante o ano, está sempre pendente dos objectivos da época, mas por exemplo posso afirmar que nesta ultima semana fiz 19 horas de treino, que ronda os 600kms.

Estamos na preparação para a nova época, qual o espírito da Efapel/Glassdrive neste momento?
O espírito da equipa continua a ser o mesmo a época passada, um espírito ganhador.
São poucas as alterações e os ciclistas que entram na equipa já foram colegas em outras equipas, por isso mesmo o espírito da equipa continua forte e com ambição em alcançar bons resultados.

Todos sabemos que o ciclismo é um desporto de sofrimento, como convive com o sofrimento?
Para mim pegar na bicicleta e sofrer já é uma coisa banal, fui-me habituando a sofrer durante os anos, mas claro que temos alturas que passamos todos nossos limites físicos.
César Fonte, na Volta a Tenerife.

Como é que um ciclista profissional consegue aguentar altas pulsações cardíacas sem sentirem mau estar evidente?
Normalmente um ciclista sabe até onde pode ir e o seu limite de pulsações cardíacas, mas nem sempre o que parece é. Um ciclista sofre muito, muitas das vezes corta a meta esgotado fisicamente. Depois também temos muito treino por de trás de uma competição.

Qual a pulsação média que obtém num contra relógio?
Dependerá sempre do objectivo que terei no contra relógio, mas normalmente rondará sempre os 150 de pulso médio.  

Como é o dia-a-dia de um ciclista profissional? 
No meu caso saio para treinar as 10h, depois dependendo das horas de treino, quando chego a casa aproveito para descansar um pouco. Depois temos tempo para fazer o mesmo que qualquer outra pessoa, claro que muitas vezes temos que nos privar de algumas coisas.

Para esta época quais os seus maiores objectivos, provas por etapas, ou de apenas um dia?
Apesar de me conseguir enquadrar em ambas, o meu objectivo vai passar pela provas de dias, acho que em Portugal ainda não temos aquela tradição de outros países pelas clássicas, que realmente é uma pena.

O que seria para sí uma boa época?
Há muitas formas de fazer uma boa época, mas para ser sincero, para ter realmente uma época de sonho era alcançar bons resultados no mês de Abril e ganhar alguma etapa ou camisola na Volta a Portugal.

Qual foi, até hoje, o melhor momento da carreira? E o pior?   
Já tive até hoje muitos bons momentos e não consigo destacar apenas só um, mas vencer corridas, camisolas, representar a selecção são sempre os melhores momentos que se pode viver como atleta. O pior foi sem dúvida quando representava o Benfica e tinha mais um ano de contrato e a equipa acabou, tive um ano de fraco rendimento físico e sem grandes resultados que me deixou em dificuldades para arranjar equipa.

César Fonte na sua primeira amarela, no GP Abimota.
No ano transacto festejou a sua primeira camisola de líder como profissional. Qual foi a sensação?
A sensação foi muito boa, qualquer ciclista ambiciona sempre estar a liderar a corrida, e eu no meu segundo ano como profissional consegui estar nessa situação. Por outro lado é uma pressão muito maior, ter toda responsabilidade de uma equipa para atingir o melhor resultado, mas é essas situações que faz um ciclista evoluir cada vez mais.

Se pudesse escolher um momento para voltar a sentir em toda a carreira, qual seria?
Voltar a estar na partida de um Campeonato do Mundo.

No ano transacto venceu três circuitos no final da temporada, qual a importância desse feito na sua carreira?
Foi importante até porque em 4 circuitos conseguir vencer 3, e estava a demostrar que estava num bom momento de forma depois da Volta a Portugal, psicologicamente tornou-me mais forte para esta nova época, agora acredito mais nas minhas capacidades e acredito que posso continuar a vencer corridas em 2012.


A Volta a Tenerife foi o ponto alto da sua época?
Acho que volta a Tenerife foi um dos grandes momentos que tive na época, mas nunca esqueço a Volta ao Algarve que, com o nível internacional que tem, conseguir ganhar uma camisola não é nada fácil.

Acha que poderia ter obtido melhor resultado lá?
Era muito difícil poder fazer melhor em Tenerife, o José Belda realmente demostrou que era o ciclista que estava em melhores condições, e depois também já estávamos em final de época a fadiga física já se fazia notar um pouco.

Como vê o ciclismo em Portugal neste momento?
O ciclismo português está numa situação muito má, equipas com pouco orçamento, que deixa os atletas a pensar duas vezes se realmente vale a pena continuar na modalidade. Por outro lado temos cada vez menos dias de corridas porque as associações não conseguem angariar orçamento para fazer corridas, temos que ser realistas e afirmar que o nosso ciclismo nunca teve tão mal como esta hoje em dia.

O que falta para o ciclismo Português evoluir?
Falta muita coisa, mas se a modalidade tivesse mais impacto na comunicação social provavelmente surgiria mais patrocinadores a quererem investir na modalidade.

Se tivesse nas suas mãos o puder de mudar uma coisa no ciclismo, qual seria?
Há muita coisa que poderia ser mudada no ciclismo português, mas uma que tem sido muito debatida, mas sem grandes resultados, é o elevado custo de policiamento. O elevado valor exigido por corrida tem obrigado a muitas anulações.     

Até que idade está a pensar ser ciclista profissional?
Hoje em dia já se vê ciclistas a chegar aos 40 anos e ainda profissionais ao mais alto nível mundial, por isso, enquanto achar que o ciclismo ainda consegue ser rentável monetariamente, sentir motivação e sentir que sou útil no ciclismo continuarei pedalando. Agora só os anos é que dirão até que idade posso andar ao mais alto nível.    

O que pensa fazer quando acabar a carreira?
Para já ainda não penso nisso, até porque ainda tenho os melhores anos de ciclismo pela frente. Mas quem sabe no futuro, até poderei ficar ligado a modalidade.

Quais os sonhos ainda não realizados e que ainda deseja realizar?
O meu grande sonho é sem dúvida um dia poder correr no Tour France, mas se um dia tiver a oportunidade de correr numa equipa World Tour e participar em algumas das melhores corridas do mundo já ficaria muito realizado.

Pessoalmente como se descreveria pessoa? E como ciclista?
Eu não sou a pessoa mais indicada para falar de mim mas, pessoalmente acho que sou uma pessoa honesta, optimista, brincalhão, independente, grande amigo, etc., como ciclista sou muito profissional e estou sempre ao dispor do que é pedido dentro de uma equipa, mesmo quando muitas vezes poderia pensar mais em mim.
Sérgio Ribeiro a esquerda, com camisola amarela de líder da Volta a Portugal, ao lado de César Fonte.

Como o César não se acha a pessoa mais indicada para falar de sí, e como já vem sendo norma, convidamos outro ciclista, neste caso foi o já nosso “velho conhecido” Sérgio Ribeiro. O Sérgio mais uma vez disponibilizou-se para deixar algumas palavras sobre um ciclista, desta vez sobre o seu colega de equipa.

“O César Fonte é daqueles homens que eu tenho 100% confiança, se eu fosse daqueles grandes ciclistas mundiais que quando vão para uma equipa levam todos os seus homens de confiança, pois eu levaria sempre o César Fonte comigo para qualquer equipa que eu fosse.
É um ciclista de grande qualidade que e útil a qualquer equipa.
É o verdadeiro ciclista DURO.”

Mais uma vez, muito obrigado César por a disponibilidade e a todos que nos enviaram perguntas. Mais uma vez, obrigado também Sérgio Ribeiro pela ajuda.

Sem comentários:

Enviar um comentário