Tal
como foi anunciado no nosso Facebook atempadamente entrevistamos mais um
ciclista português, o jovem valor César Fonte.
O
César é ciclista da equipa portuguesa Efapel/Glassdrive.
Antes
de mais, obrigado César por aceitar o nosso convite.
Como
entrou para o ciclismo?
Comecei na minha terra, em Vila Franca, havia a
tradição de fazerem uma prova de BTT.
A primeira vez que participei foi com alguns amigos,
mas foi simplesmente na “brincadeira”, no segundo ano fiquei nos 3 primeiros
lugares e a partir dai comecei a participar em outras provas BTT, como
individual, e tinha bons resultados.
No ano a seguir decidi correr na estrada pela Tensai/Santa
Marta.
Quando
começou a correr, pensava que teria um futuro como profissional?
Nos primeiros anos não, até porque comecei muito
novo e andava um pouco no ciclismo por brincadeira. Depois, com o passar do
tempo, cheguei a sub-23 e ai já sentia a ambição de ser ciclista profissional.
A
sua família sempre o apoiou na sua carreira de ciclista?
Sim, para um ciclista chegar a profissional tem que
ter os apoios dos familiares e eu sempre tive e continuo a ter, por isso mesmo
também agradeço a eles.
Quantas
horas treina um profissional de ciclismo por semana?
Um ciclista não tem
sempre o mesmo método de treino durante o ano, está sempre pendente dos
objectivos da época, mas por exemplo posso afirmar que nesta ultima semana fiz
19 horas de treino, que ronda os 600kms.
Estamos
na preparação para a nova época, qual o espírito da Efapel/Glassdrive neste
momento?
O espírito da equipa continua a ser o mesmo a época
passada, um espírito ganhador.
São poucas as alterações e os ciclistas que entram
na equipa já foram colegas em outras equipas, por isso mesmo o espírito da
equipa continua forte e com ambição em alcançar bons resultados.
Todos
sabemos que o ciclismo é um desporto de sofrimento, como convive com o
sofrimento?
Para mim pegar na bicicleta e sofrer já é uma coisa
banal, fui-me habituando a sofrer durante os anos, mas claro que temos alturas
que passamos todos nossos limites físicos.
César Fonte, na Volta a Tenerife. |
Como
é que um ciclista profissional consegue aguentar altas pulsações cardíacas sem
sentirem mau estar evidente?
Normalmente um ciclista sabe até onde pode ir e o
seu limite de pulsações cardíacas, mas nem sempre o que parece é. Um ciclista
sofre muito, muitas das vezes corta a meta esgotado fisicamente. Depois também
temos muito treino por de trás de uma competição.
Qual
a pulsação média que obtém num contra relógio?
Dependerá sempre do objectivo que terei no contra relógio,
mas normalmente rondará sempre os 150 de pulso médio.
Como é o dia-a-dia de um ciclista
profissional?
No meu caso saio para
treinar as 10h, depois dependendo das horas de treino, quando chego a casa
aproveito para descansar um pouco. Depois temos tempo para fazer o mesmo que
qualquer outra pessoa, claro que muitas vezes temos que nos privar de algumas
coisas.
Para
esta época quais os seus maiores objectivos, provas por etapas, ou de apenas um
dia?
Apesar de me conseguir
enquadrar em ambas, o meu objectivo vai passar pela provas de dias, acho que em
Portugal ainda não temos aquela tradição de outros países pelas clássicas, que
realmente é uma pena.
O
que seria para sí uma boa época?
Há muitas formas de fazer uma boa época, mas para
ser sincero, para ter realmente uma época de sonho era alcançar bons resultados
no mês de Abril e ganhar alguma etapa ou camisola na Volta a Portugal.
Qual foi, até hoje, o melhor momento da
carreira? E o pior?
Já tive até hoje muitos
bons momentos e não consigo destacar apenas só um, mas vencer corridas,
camisolas, representar a selecção são sempre os melhores momentos que se pode
viver como atleta. O pior foi sem dúvida quando representava o Benfica e tinha
mais um ano de contrato e a equipa acabou, tive um ano de fraco rendimento físico
e sem grandes resultados que me deixou em dificuldades para arranjar equipa.
César Fonte na sua primeira amarela, no GP Abimota. |
No ano transacto festejou a sua primeira
camisola de líder como profissional. Qual foi a sensação?
A sensação foi muito boa,
qualquer ciclista ambiciona sempre estar a liderar a corrida, e eu no meu
segundo ano como profissional consegui estar nessa situação. Por outro lado é
uma pressão muito maior, ter toda responsabilidade de uma equipa para atingir o
melhor resultado, mas é essas situações que faz um ciclista evoluir cada vez
mais.
Se
pudesse escolher um momento para voltar a sentir em toda a carreira, qual
seria?
Voltar a estar na partida de um Campeonato do Mundo.
No
ano transacto venceu três circuitos no final da temporada, qual a importância
desse feito na sua carreira?
Foi importante até porque
em 4 circuitos conseguir vencer 3, e estava a demostrar que estava num bom
momento de forma depois da Volta a Portugal, psicologicamente tornou-me mais
forte para esta nova época, agora acredito mais nas minhas capacidades e
acredito que posso continuar a vencer corridas em 2012.
A
Volta a Tenerife foi o ponto alto da sua época?
Acho que volta a Tenerife foi um dos grandes
momentos que tive na época, mas nunca esqueço a Volta ao Algarve que, com o nível
internacional que tem, conseguir ganhar uma camisola não é nada fácil.
Acha
que poderia ter obtido melhor resultado lá?
Era muito difícil poder fazer melhor em Tenerife, o José
Belda realmente demostrou que era o ciclista que estava em melhores condições,
e depois também já estávamos em final de época a fadiga física já se fazia
notar um pouco.
Como vê o ciclismo em Portugal neste
momento?
O ciclismo português está
numa situação muito má, equipas com pouco orçamento, que deixa os atletas a
pensar duas vezes se realmente vale a pena continuar na modalidade. Por outro
lado temos cada vez menos dias de corridas porque as associações não conseguem
angariar orçamento para fazer corridas, temos que ser realistas e afirmar que o
nosso ciclismo nunca teve tão mal como esta hoje em dia.
O
que falta para o ciclismo Português evoluir?
Falta muita coisa, mas se a modalidade tivesse mais
impacto na comunicação social provavelmente surgiria mais patrocinadores a
quererem investir na modalidade.
Se
tivesse nas suas mãos o puder de mudar uma coisa no ciclismo, qual seria?
Há muita coisa que poderia ser mudada no ciclismo
português, mas uma que tem sido muito debatida, mas sem grandes resultados, é o
elevado custo de policiamento. O elevado valor exigido por corrida tem obrigado
a muitas anulações.
Até
que idade está a pensar ser ciclista profissional?
Hoje em dia já se vê ciclistas a chegar aos 40 anos
e ainda profissionais ao mais alto nível mundial, por isso, enquanto achar que
o ciclismo ainda consegue ser rentável monetariamente, sentir motivação e
sentir que sou útil no ciclismo continuarei pedalando. Agora só os anos é que
dirão até que idade posso andar ao mais alto nível.
O
que pensa fazer quando acabar a carreira?
Para já ainda não penso nisso, até porque ainda
tenho os melhores anos de ciclismo pela frente. Mas quem sabe no futuro, até
poderei ficar ligado a modalidade.
Quais os sonhos ainda não realizados e que
ainda deseja realizar?
O meu grande sonho é sem
dúvida um dia poder correr no Tour France, mas se um dia tiver a oportunidade
de correr numa equipa World Tour e participar em algumas das melhores corridas
do mundo já ficaria muito realizado.
Pessoalmente
como se descreveria pessoa? E como ciclista?
Eu não sou a pessoa
mais indicada para falar de mim mas, pessoalmente acho que sou uma pessoa
honesta, optimista, brincalhão, independente, grande amigo, etc., como ciclista
sou muito profissional e estou sempre ao dispor do que é pedido dentro de uma
equipa, mesmo quando muitas vezes poderia pensar mais em mim.
Sérgio Ribeiro a esquerda, com camisola amarela de líder da Volta a Portugal, ao lado de César Fonte. |
Como
o César não se acha a pessoa mais indicada para falar de sí, e como já vem
sendo norma, convidamos outro ciclista, neste caso foi o já nosso “velho
conhecido” Sérgio Ribeiro. O Sérgio mais uma vez disponibilizou-se para deixar
algumas palavras sobre um ciclista, desta vez sobre o seu colega de equipa.
“O César Fonte é
daqueles homens que eu tenho 100% confiança, se eu fosse daqueles grandes
ciclistas mundiais que quando vão para uma equipa levam todos os seus homens de
confiança, pois eu levaria sempre o César Fonte comigo para qualquer equipa que
eu fosse.
É um ciclista de grande
qualidade que e útil a qualquer equipa.
É o verdadeiro ciclista
DURO.”
Mais
uma vez, muito obrigado César por a disponibilidade e a todos que nos enviaram
perguntas. Mais uma vez, obrigado também Sérgio Ribeiro pela ajuda.
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