Mais uma vez vamos colocar no nosso
blog uma entrevista a um grande ciclista, Rui Costa.
O Rui corre na equipa
espanhola Movistar.
Desde já agradeço a todos que
enviaram perguntas.
1-Quais as provas que vai
"apostar" em 2012?
Antes de mais agradeço ao Ciclismo Mundial esta
oportunidade. Ainda não foi anunciado o meu calendário para 2012, portanto não
posso apostar em corridas que ainda não sei se as vou fazer.
2-O que achou do traçado do Tour deste ano?
E o do próximo?
O Tour deste ano foi duro, como o normal. O mesmo não
posso dizer do próximo. Apesar de ter alta-montanha é mais plano, e vai
beneficiar outro tipo de corredores, para além dos habituais trepadores.
3-No ProTour sabemos que o dia-a-dia dos
ciclistas acaba por ser um pouco diferente do Continental por exemplo. Pode
falar-nos um pouco desse seu dia-a-dia?
Levanto-me sempre por volta das 8h e saio para treinar
por volta das 9h30 depois de tomar o pequeno-almoço. Se estiver em preparação
para uma corrida importante posso fazer um treino até 6h. Depois de chegar a
casa e lanchar, por volta das 16h, tomo um duche e vou ao descanso para ter
energia e fazer um bom treino no dia seguinte.
4-O que acha do ciclismo actual?
Em Portugal? Está como o país: em crise, infelizmente.
Espero que essa crise desapareça rapidamente e que esta modalidade volte aos
seus melhores dias.
5-Acha que neste momento é uma referência a
nível Mundial?
Eu? Não... sei que tenho valor mas daí a ser referência
mundial é demasiado. Mas confesso que gostava de o ser um dia.
6-Tem apenas 25 anos, já ganhou várias
coisas importantes, como acha que vai ser tudo daqui para a frente?
Até aqui noto que tenho vindo a evoluir de ano para ano.
Vou continuar a trabalhar que assim seja. Vamos lá ver o que a sorte me
reserva.
7-Quais são as principais perspectivas para
o próximo ano?
Gostava de fazer uma época tão boa como esta. Tenho noção
que é difícil, mas sonhar não custa e eu sou sonhador e ambicioso por natureza.
8-Como é correr ao lado de alguns dos
melhores ciclistas do mundo?
É uma inspiração. Gosto de ver a forma como pedalam e
lêem a corrida.
Nem sei explicar, mas sei que foi uma sensação muito
muito boa e que gostava de voltar a sentir de novo. Faz bem ao nosso ego.
10-Como ingressou no ciclismo?
Primeiro comecei no atletismo onde estive dois anos.
Depois fui influenciado pelo meu pai vir para esta modalidade. O meu pai sempre
sonhou em ser ciclista, como não conseguiu eu segui o seu sonho.
11-Ainda é muito novo, e com um enorme
futuro à sua frente, mas já imaginou o seu futuro quando abandonar o ciclismo?
Não faço a mais pequena ideia do meu futuro depois do
ciclismo. Pode ser que não deixe de vez a modalidade... quem sabe.
12-Pensa regressar ao ciclismo nacional ou
espera acabar a sua carreira fora do país?
Quando chegar a essa altura logo se vê, ainda é muito
cedo para pensar nisso agora.
13-O ciclismo em Portugal, tal como o
próprio país, atravessa um momento difícil, como vê o futuro da modalidade em
Portugal? Acha que há futuro?
Como referi anteriormente, o ciclismo é também o reflexo
do momento difícil que o nosso país atravessa mas é claro que acho que terá
futuro. A esperança não pode morrer.
14-Qual seria a sua profissão se não fosse
ciclista?
Não me imagino a fazer outra coisa que não seja
pedalar... não sei.
15-Teve uma enorme projecção nacional
depois de vencer a etapa no Tour, por todos os meios de comunicação social, com
o passar do tempo, fomos novamente deixando de ouvir falar em si. Sentiu-se
usado pela comunicação social?
De forma alguma. Tenho noção que o Tour envolve muito
mediatismo e sabia que teria uma grande projecção nessa corrida e não nas
outras, ou na grande maioria delas. Mas não é verdade que os meios de
comunicação se esqueceram de mim, pelo contrário, tenho respondido a muitos
pedidos de entrevistas, bem mais que nos anos anteriores.
16-Como um ciclista vê o esquecimento dos
principais órgãos da comunicação social na sua carreira?
Eu felizmente não sei o que isso é. Tive mais projecção
numas corridas que outras mas esquecido na totalidade nunca fui, felizmente.
17-Quando era mais novo tinha algum ídolo
no ciclismo? Se sim, quem era? E hoje, tem algum?
O meu ídolo foi e será sempre o grande senhor Armstrong.
Também admiro muito o Valverde como pessoa e ciclista.
18-Existem ciclistas que privilegiam as
vitórias no Tour, outros nos Jogos Olímpicos ou nos Mundiais, para o Rui que já
venceu no Tour, qual seria mais importante?
Não sei... talvez os Jogos Olímpicos. Pela simples razão
de que se é campeão por muito mais tempo que os restantes (durante 4 anos
consecutivos).
19-Como é conviver com a pressão de uma
prova como o Tour?
Nós somos muito bem tratados e os profissionais que nos
rodeiam fazem de tudo para que essa pressão não chegue até nós e comigo tem
resultado. É verdade que a euforia é muita mas sabemos vivê-la de forma
saudável.
20-Sente que a tendinite que teve no Tour
penalizou muito a sua participação?
Iria ser difícil fazer outro grande resultado mas é
verdade que me afectou muito e prejudicou o meu desempenho.
21-Pensou em algum momento abandonar o Tour
devido à lesão?
Sim, imensas vezes. Sofri muito e sempre que esse
sofrimento se fazia sentir pensei que não ia aguentar. Felizmente consegui ser
forte e terminar o Tour.
22-Sentiu-se um alvo a abater depois de ter
vencido a etapa? Depois dessa vitória quando atacava víamos de imediato membros
de outras equipas e segui-lo, para não o deixar fugir.
De certa forma sim. Quando um ciclista ganha não passa
despercebido aos outros e eu sabia que a partir dali iria ser mais marcado e
ter menos liberdade.
Xavi Tondo a esquerda e Rui Costa a direita. |
23-Qual foi, no seu ponto de vista, o ponto
mais triste da sua carreira?
Foi ir ao funeral do meu colega de equipa e amigo Xavier
Tondo. Foi uma sensação horrível e difícil de ultrapassar.
24-Se pudesse, o que é que mudava no mundo
do ciclismo?
Gostava que o Ciclismo deixasse de ser o parente pobre do
desporto. É a modalidade mais dura e das menos valorizadas.
Antes de terminar esta entrevista queria
agradecer ao Rui Costa por toda a disponibilidade mostrada em responder as
nossas perguntas.
Rui Costa a esquerda, e André Cardoso o terceiro a contar da direita. |
Não poderia também deixar de agradecer ao
André Cardoso, que deu a sua opinião sobre o Rui Costa.
André, como
o conheces-te o Rui?
Conheci
o Rui Costa nas provas, eu era júnior e o Rui era Cadete, lembro perfeitamente
de ele já ser um grande atleta e marcar a diferença naquele escalão. Mais tarde
acabou por ser meu colega de equipa no S. J. de Ver no ano de 2005.
Qual
a relação que mantens com o Rui?
Acaba
por ser uma relação de colegas de profissão e respeito mútuo, o Rui tem uma
carreira internacional e eu apenas irei em 2012 além fronteiras mas para
equipas distintas.
Qual
a sua opinião sobre o Rui como pessoa? E como profissional?
A
verdade é que eu do Rui não tenho razão de queixa, como pessoa é um rapaz
simples, humilde, honesto, expressivo e por vezes engraçado. Como profissional
é o que todos nós sabemos, os resultados acabam por falar por si mas dentro dos
bastidores posso dizer que é bastante exigente com ele, ambicioso e tem boa
leitura de corrida.